segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Falar sobre ideias

    Há alguns meses, após pensar sobre aspectos diversos da vida, tomei a decisão de excluir meu facebook. Devo dizer que até agora não me arrependi e creio que não me arrependerei tão cedo. Na mesma oportunidade pensei não haver sentido em manter um blog pelas mesmas razões que me levavam a não mais querer observar e ser observado através do facebook.

    Deixei de deletar o blog por achar legal visitar, de vez em quando, o que pensava tempos atrás; mesmo algumas baboseiras plantadas aqui e ali mostram que o hoje existente se desenvolveu de algo mais primitivo. Desde então (ex tunc, em tradução literal), como um julgador que mantém a decisão embargada por seus próprios argumentos, o blog está parado e com o pressuposto de ter-me como único leitor atento.

    No entanto, como veio ele à tona em algumas conversas junto a colegas e familiares, decidi vez ou outra colocar aqui alguma ideia sem o intento (antes central) de divulgar o blog buscando o maior número possível de acessos. Escreverei para os poucos que, por acaso ou não, acessarem; ao fim será um diálogo comigo mesmo e com esses poucos. Conforme já citei em várias outras ocasiões, ensina Platão que filosofar é dialogar.

    Pois bem, seja por um meio ou outro, o diálogo não perde sua natureza; através de diálogos venho remodelando o que penso a cada dia, de sorte que mesmo a leitura regressiva em termos temporais dos posts desse blog parece um corte geológico do solo que revela seu passado. Tal passado é necessário para que o solo de hoje seja desta maneira; espero que seja um solo fértil.

    Aqueles que utilizam a internet com certa frequência devem ter observado que ultimamente existem "quadros" nos cantos de certas páginas nos quais por vezes aparecem as propagandas de sempre e por vezes citações variadas de provérbios ou frases famosas. Estas aparecem em inglês e uma das que mais me chamou atenção foi a seguinte:

    "Great people talk about ideas
    average people talk about things
    small people talk about other people."

    ou seja, grandes pessoas conversam sobre ideias, pessoas normais conversam sobre coisas e pessoas pequenas conversam sobre outras pessoas.

    Pensando sobre essa citação de autor desconhecido, me parece que resulta em uma instrução simples e certeira para a aquisição de virtudes e a priorização de boas amizades; consequentemente, portanto, para uma melhora generalizada de vida.

    Infelizmente, utilizando metáfora extraída de Harry Potter, muitos são os trouxas e poucos são os bruxos, ou seja, quase ninguém vai conseguir operar essa mágica após uma vida tendo objetivos exclusivamente materiais e utilizando momentos de fofoca como fonte de lazer. A mágica, no caso, seria tornar-se "grande pessoa".

    Nesse caso poderia tratar "grande pessoa" como "grande alma"; isso me lembra Mahatma Gandhi onde Mahatma significa "grande alma" e Gandhi é um sobrenome comum (como "silva" aqui no Brasil). Poder-se-ia dizer que é uma grande alma no povo. Uma grande alma é capaz de contribuir de modo quase impensável para a humanidade, de modo que os médios e pequenos sequer suspeitam.

    Olhando ao final da trajetória de uma grande pessoa é facílimo perceber qual é a escolha certa, que esta pessoa foi capaz de realizar tais escolhas nas encruzilhadas de sua vida; ocorre, porém, que enfrentamos encruzilhadas semelhantes diariamente e seduzidos pelo caminho mais fácil/curto/conveniente ficamos quase sempre do medíocre para baixo.

    Ora, se a escolha certa muitas vezes é óbvia, por que tal irracionalidade? Diz José Ingenieros, em sua obra "O Homem Medíocre" que "ao homem medíocre o cérebro é simples adorno". Também como quem olha a situação de cima, em tom sério e por isso cômico completa que o homem medíocre é fenômeno que aparece com frequência na vida, por isso é necessário estudá-lo.

    Quando defronta-se com algum rebento o qual adentrou certo estágio da grandeza aqui descrita, é prontamente perceptível que em sua presença é por vezes pejorativo ressaltar amenidades/futilidades. A simples presença do grande homem urge pela discussão de ideias, por discussões diferentes do comum e corrente, pelo diálogo que finda em filosofar.

    Como também já ressaltei em outra oportunidade, a própria sigla PhD (Philosophy Doctor) pressupõe a necessidade de que, após estudada uma ciência a fundo, estude-se filosofia. Ao final, filosofia é mesmo o que resulta do contato produtivo com grandes homens. O encontro de conhecimentos desenvolvidos do simples ao complexo produz novos conhecimentos.

    Imaginem um big bang, o surgimento de um universo incomensurável onde sequer espaço existia, eis o que ocorre no encontro de ideias provenientes de grandes homens, diz-se, por exemplo, que a primeira conversa entre Carl Jung e Sigmund Freud durou 13 (treze) horas. Diz-se também que ao homem é dado o poder de criar tudo o que tem capacidade de imaginar.

    Imaginamos muitas coisas, de discos voadores a máquinas do tempo; incontáveis avanços atuais seriam dados como impossíveis no século retrasado. É possível, dessa forma, alcançar mares nunca dantes navegados com certa facilidade tendo os grandes homens em maior número e em contato.

    Ocorre que o mundo não raro barra o progresso desses homens que poderiam, ao futuro, carregá-lo nas costas como um atlas (ver Atlas Shrugged de Ayn Rand, publicado no Brasil como A Revolta de Atlas)¹, insiste em empurrar os grandes homens a falar sobre coisas e sobre outras pessoas quando estes querem falar sobre ideias. Conheço pouquíssimos desses grandes e tenho como pretensiosa pretensão tornar-me um deles algum dia.

    Acredito que quem mira baixo se limita, principalmente quando o faz na juventude. Quando se é novo, está na hora de fixar um objetivo, sendo tal objetivo carecedor de muito trabalho/dedicação e oferecendo horizontes infinitos àqueles que o atingem, aí haverá possibilidade de surgir um grande homem. A vida "peneira" continuamente os que estão na busca de seus objetivos; sobreviver a essa seleção natural é vital.
    Como é exposto no filme Peixe Grande (Big Fish), dirigido por Tim Burton (excelente filme), "O maior peixe do rio só é grande porque nunca foi pego."

    Penso que a importância de que os objetivos finais figurem em posições nas quais haja horizonte infinito para criar pode ser dita também como objetivos em que haja a possibilidade de filosofar. Somente dessa filosofia somada ao conhecimento já obtido pelo homem pode surgir o novo; de que adianta saber executar o trabalho sem possuir as ferramentas necessárias? 

    Como essas coisas não vêm de uma hora para outra, é necessário pensar a longo prazo, coisa que já exclui grande parte da população; como a frase que minha mãe frequentemente cita como sendo de Paulo Freire: "não se pode abrir a flor à força."
    Mas isso já é pano para a manga de outro post.

    Por ora é isso (:


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¹ A obra "A Revolta de Atlas" me pareceu sensacional por certos aspectos, me deu vontade de fazer minha própria sorte e triunfar na vida, contudo possui alguns aspectos de extremismo que em minha opinião devem ser relevados pelo leitor. Alguns exemplos são sua tendência altamente materialista, ateísta e desprovida de sentimentos desinteressados.
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