terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A revolta do vintém, as vozes de junho e os professores do Paraná

Nesse fim de semana terminei de ler uma obra que conta a história de D. Pedro II. Virei fã do sujeito, que logo merecerá um post só para ele.

Durante a leitura me chamou atenção o episódio da revolta do vintém, ocorrida na virada de 1879-1880, quando estava programado um aumento de 20 réis - um vintém - na passagem de bonde no Rio de Janeiro (lembra alguma coisa?!).

[vejam aqui os "dinheiros" que já circularam pelo Brasil]

Assim como hoje, a questão não era "só pelos 20 centavos", como conta José Murilo de Carvalho:

"O aumento devia ter início no dia 1º de janeiro de 1880. No dia 28 de dezembro, uma multidão reuniu-se no Campo de São Cristóvão. Insuflada pelos líderes republicanos Lopes Trovão e José do Patrocínio, a massa dirigiu-se ao palácio para entregar ao imperador uma petição solicitando a revogação da lei. A polícia não permitiu acesso ao palácio. O monarca mandou, então, mensagem a Lopes Trovão dizendo que receberia uma delegação dos manifestantes. Foi a vez de o republicano recusar a oferta, buscando explorar o mais possível a reação negativa ao comportamento da polícia. Preferiu publicar um manifesto, que dizia conter 7 mil assinaturas, solicitando a d. Pedro a revogação da Lei.


No dia 1º, cerca de 4 mil pessoas se concentraram no largo do Paço, onde foram incitadas a não pagar o imposto, e depois se dirigiram para o largo de São Francisco. No meio do caminho, a multidão começou a quebrar bondes, agredir motoristas e destruir os trilhos da Rua Uruguaiana. Às cinco horas da tarde, chegaram ao largo dois pelotões do Exército, que ocuparam a frente da Escola Politécnica. O comandante da tropa, ten-cor. Antônio Eneias Gustavo Galvão, futuro barão do Rio Apa, atingido por uma pedra, deu ordem de fogo, resultando do tiroteio alguns mortos e uns quinze feridos. Mais trilhos foram arrancados em outras partes da cidade. Os distúrbios repetiram-se até o dia 4 de janeiro. A lei do vintém foi revogada." (D. Pedro II. 1. ed. Cia das Letras, 2007. p. 177.)
Reparem que existem sempre interesses escusos por trás. Possivelmente havia razão na reivindicação popular, mas teria ela prosperado sem os agitadores republicanos? Teria ou não sido revogada a lei se aceitassem dialogar antes de quebrar tudo? (particularmente creio que D. Pedro resolveria por meios pacíficos)

Pela leitura do livro somada ao que lembro das aulas de história, o império brasileiro caiu pela perda do apoio dos militares, da igreja e da elite. Havia ainda certo apoio popular à monarquia que abolira a escravidão, mas a população era massa de manobra e foi facilmente convencida de que república era boa coisa.

Fazendo um corte, passo às manifestações de junho de 2013, que povoaram os discursos dos políticos nas últimas eleições, assim como os discursos de quem quer que defenda algo nesse país. As "vozes de junho" hoje pode-se dizer que queriam de tudo e acabaram não querendo nada específico - trouxeram, contudo alguns acontecimentos interessantes.

Se bem recordo, no início do movimento a mídia não o dava muito destaque..deviam ser aqueles estudantes baderneiros, não vamos dar espaço. Ocorre que as proporções foram aumentando a ponto de todos irem para a rua e mesmo os motoristas parados no trânsito interrompido por passeatas as verem com contentamento.

A mídia virou, o governo virou, o jogo virou - e os jogadores passaram a pensar em como lidar com aquilo. Mas não podia mais ser escondido.

Tais manifestações me lembram uma carta de um jogo que jogo com alguns amigos uma ou duas vezes por ano. A carta mostra um gigante poderoso - é melhor do que todas as outras cartas, é difícil de colocar em jogo, mas só dura por uma rodada.

A rodada passou, deixou algum legado, mas passou. Não seria melhor se aquilo continuasse com organização? Se o povo de alguma forma tivesse reivindicações bem articuladas, com inteligência e força? Pois é aí que entram os professores do Paraná.

O Brasil é uma federação, ou seja, cada estado possui certa autonomia financeira no que toca à remuneração dos servidores.
O Paraná é um estado
Os professores estaduais são servidores

Agora no início do ano, o Governo Beto Richa propôs um pacote de medidas prejudiciais à carreira dos professores - nas palavras destes "acabando com os direitos conquistados a duras penas nos últimos anos".

Não entrarei nos detalhes das medidas do pacote apelidado de "tratoraço", mas pude analisar a questão e me convenci de que as reivindicações são legítimas, bem articuladas e assimiladas pelo movimento. Imaginem o Paraná como um pequeno país e vejam o que os professores fizeram nos últimos dias (10/02/15) na Assembleia Legislativa (ALEP), que equivaleria ao congresso nacional:



E em ocupando a Assembleia Legislativa:


Não convencidos pelo movimento formado, os deputados, ante o fato de que os professores ocuparam todos os portões de acesso chegaram a cerrar certo ponto das grades, entrar por um acesso alternativo na assembleia - alguns de camburão - para votar o pacote de medidas em outra sala. Destaque-se que o plenário estava inutilizado após a primeira ocupação.

Sabendo disso os professores novamente invadiram e conseguiram adiar a sessão para segunda que vem:

Vejam que estamos no meio do caminho, a mídia está começando a virar, tudo depende dos próximos capítulos - se o movimento arrefece e o "pacotaço" passa, vão abafar, mas se os professores vencerem gerando novas comoções populares, ocorrerá no Paraná o que ocorreu no Brasil em junho de 2013. Saquem só esse mural:


Dessa vez com um movimento melhor articulado. Com adesão popular crescente, o governador ficando encurralado e dando uma ou outra declaração infeliz a qualificar os manifestantes (em sua maioria professores com formação superior) como baderneiros.

O interessante é a pouca atenção dada para tudo isso no resto do país..talvez tenham medo que como num rastilho de pólvora grupos de outros locais sigam os passos dos professores do Paraná. Isso lembra Jogos Vorazes, lembra 1984, lembra vagamente os tempos da ditadura - mas não o império..jamais houve tanta liberdade de imprensa nesse país como nos tempos de D. Pedro II.
"Diplomatas europeus e outros observadores estranhavam a liberdade dos jornais brasileiros. Schreiner, ministro da Áustria, afirmou que o imperador era atacado pessoalmente  na imprensa de modo que 'causaria ao autor de tais artigos, em toda a Europa, e até mesmo na Inglaterra, onde se tolera uma dose bastante forte de liberdade, um processo de alta traição'." (id. p. 86) 

Quanto ao Paraná, aguardemos as cenas dos próximos capítulos...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A torre negra, arrependimentos no leito de morte, uma odisseia no espaço, etc

Olá blog, olá leitores escassos porém bons
Long time no see

Esse último ano foi francamente inacreditável
Comecei a pensar porque ele foi assim
Y como si fuera una historia de Marvel
Some ideas at the moment begin

Espero que esse post acrescente algo à vida de quem quer que esteja lendo

Você já deve ter ouvido falar dos TED Talks, vídeos que se multiplicam a cada dia, vídeos nos quais quem fala possui alguns minutos para dar o seu recado, deixar o seu legado. Pois bem, acabei de assistir um desses.

No vídeo, uma menina contava como superou a depressão e pretensões suicidas vindas de uma concussão cerebral e, vejam que interessante, citou essa reportagem do jornal The Guardian sobre os cinco maiores arrependimentos que pessoas idosas relatam em seu leito de morte, bem como uma possível solução para que os superemos.

No final ela acaba aplaudida de pé..Jane McGonigal..talvez valha a pena dar uma olhada.

Voltando à ideia do post, Jane relata no vídeo que após superar a concussão, experimentou o que os médicos chamam de "crescimento pós-traumático". Já ouvimos falar quem sabe no "stress pós-traumático", mas o crescimento é igualmente uma possibilidade, seria o que nós chamaríamos de "aprender com a vida".

É como um saiajin que fica mais forte do que antes após recuperar-se.

Como a nave Discovery de "2001: uma odisseia no espaço", que utiliza a gravidade de Júpiter para gerar impulso em direção a Saturno (no livro, não no filme) (pg 57 desse pdf).

Após essas nerdices, onde quero chegar? Bem, diria que nesse ano tive três situações em que perdi, em que considero que falhei.

Em uma delas participava de uma competição e pude reparar que os vencedores usualmente comemoram sem pensar nos deslizes cometidos ou ponderar sobre melhorias - e é natural que seja assim. Contraditoriamente, pude ver que as "derrotas" - cada uma em seu contexto - ensinaram-me mais do que a vitória teria feito.

No final é bem possível que eu tenha ficado no lucro. Não sou Harvey Specter ou o Pernalonga para vencer sempre, mas tive também vitórias.

Em suma, as derrotas são o que referi no post anterior como um "chute", uma dose cavalar dada de uma vez e capaz curar deficiências profundas.

Acredito que caso tenhamos um propósito na vida, 99,9..% das derrotas não nos frustrarão completamente, mas nos instigarão a imaginar novas alternativas (como me disse um amigo ontem) e vencer
.

    *    *    *

O escritor Stephen King terminou recentemente sua obra "A torre negra" em sete livros. Começou a escrevê-la nos anos 80. Por vezes se perguntou se iria conseguir concluí-la. Chegou lá.

Na parte em que estou, o pistoleiro Roland Deschain - protagonista - está buscando a torre negra. Passa por jornadas árduas, situações extremas, desumanas; seu propósito de chegar à torre, no entanto, é inabalável e o guia acima de tudo.

O interessante é que após centenas de páginas lidas, não sei praticamente nada sobre a tal da torre, após ter lido centenas de páginas não sei ao certo o que ela é, para que serve e o que as personagens farão/poderão fazer ao chegar lá.O autor não disse

Embora quase nada tenha sido dito e isso seja essencial para entender a história, eu e milhares de leitores ao redor do mundo continuamos lendo aquele negócio. Pelo propósito.

King não disse que diabos é a torre, mas convenceu que ela é importante - muito importante. A ponto de tudo poder ser feito para que se chegue a ela.

No prólogo do terceiro livro, o autor relata que a torre pode ser algo abstrato, que aquela série era a torre negra dele, mas e quanto à sua, qual é a sua torre negra?

A obra foi inspirada no poema de Robert Browning "Childe Roland à torre negra chegou". O poema não é muito longo e também não diz exatamente que raios é a torre, mas o poema traz a força do propósito de alcançar um objetivo, creio que daí surgiu a inspiração.

    *    *    *

Para fechar essa viagem e conectar alguns pontos, diria que nessa minha curta vida, na minha muita ignorância (como diz um outro amigo) começo a ver que frequentemente as coisas não são o que parecem e que mesmo uma derrota pode ser uma vitória, se contribuir para a realização de um propósito.

Que um dia alcancemos a nossa torre negra.

Hasta la vista

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O banho e a volta

     Após ter praticamente esquecido da existência do blog, exceto por um ou outro momento no qual em conversas sobre o assunto surgia o contexto para dizer "eu postava em um blog", volto aqui. A bem da verdade nem voltaria se não houvesse um "chute".

    Aqueles que assistiram o filme "A origem" devem lembrar que no meio do sonho, para que a pessoa "acordasse" era necessário um chute, que poderia ser um susto, um acidente de carro ou um banho gelado. Pois bem, justamente o banho gelado (título do post anterior a esse) lembrou-me da última vez que escrevi aqui e me fez pensar que talvez valesse a pena voltar, tanto por mim quanto por alguém que resolva ler e pensar sobre as mesmas coisas que têm chamado minha atenção nessa vida.

    Nesse momento o leitor atento deve estar pensando sobre onde entra o banho gelado nessa história; devo dizer que resolvi fazer uma experiência..atualmente estou lendo um livro sobre o qual ouvi falar na aula nesse semestre, chama-se "Bleak house" (que em português seria "Casa desolada") e foi escrito por Charles Dickens (o mesmo de Oliver Twist, David Copperfield e outros tantos clássicos da literatura inglesa).

    No livro, há uma personagem cuja personalidade é impressionante, John Jarndyce. O sujeito possui a capacidade de "chegar no coração das pessoas", de agir assertivamente e com inteligência nos mais variados momentos. Dickens, assim como Flaubert, Machado de Assis, José de Alencar, George R. R. Martin, Tolkien e tantos outros, constrói bem a história e descreve com detalhes os cenários nos quais ela se passa.

    Dessa maneira, ao descrever os aposentos de John Jarndyce, aparece um local no qual ele possui o hábito de tomar banhos frios; nesse ponto o editor faz uma remissão informando que à época acreditava-se que tomar banho frio higienizava tanto fisicamente quanto moralmente o homem. Partindo do pressuposto de que em condições saudáveis não há riscos num banho frio e que muitos inclusive dizem ser este mais saudável que o quente, resolvi fazer um teste.

    Percebi que estamos de tal maneira acostumados com uma vasta zona de conforto tanto psicologicamente quanto fisicamente. Que nossa personalidade "plasma" em todos os aspectos da nossa vida o que temos de bom e de ruim, enfim, que para mim é extremamente difícil tomar um banho gelado de propósito hehe

     Depois desse banho (que consegui tomar) lembrei do blog e tenho a nítida sensação de estar revigorado; pode ser viagem minha, mas já valeu a pena. Mesmo que eu descubra no futuro uma ausência de sentido nessa parafernalha toda, a viagem terá trazido o suficiente para eu já nem pensar muito no destino.

     Agora começo a pensar no que eu, o mundo, a vida, o universo e tudo mais (entendedores entenderão) mudaram desde que esse blog ficou parado. Nesse meio tempo ocorreram coisas que eu jamais poderia imaginar; creio que estou no caminho certo fazendo a vida tornar-se inacreditável de maneira que eu sinta poder fazer a diferença e ainda não ter perdido a sensação - há muito abandonada por vários conhecidos - de que posso ajudar a mudar o mundo.

     O mundo é feito de pessoas..o que muda e move o mundo são as pessoas..eu sou uma pessoa..provavelmente você também é.

     Sem mais por hoje. Amanhã será outro dia e quando eu acordar buscarei lembrar do que falou Charles Chaplin: O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim.

     Dessa vez serei um escultor recém saído de um chute através de um banho gelado ;)

sábado, 12 de janeiro de 2013

O Banho Gelado

    Agora mais um post após novo lapso inativo no blog. Assim como muitos outros será um conjunto de recortes vindos das mais diversas fontes e que culminam em uma ideia central.

          *          *          *

    Através dos séculos as pessoas mais notáveis da humanidade fizeram uma cruzada em busca da felicidade, que não é uma coisa ou outra, mas A coisa. Após simples reflexão é possível concluir ser de inteligência questionável o homem que não a busca e que não posiciona tal busca no centro de sua vida.

    Pois bem, tenho de dizer que quase todos nós, então, somos de inteligência questionável, pois atravancamos o que podemos no caminho de nossa própria felicidade, a única coisa que importa no final das contas. Não trarei aqui a fórmula mágica, mas possivelmente uma reflexão que ajudará a sermos, quem sabe, menos infelizes em nossas atitudes e escolhas.

    Se fosse necessário uma vida estável financeiramente ou com alguns problemas a menos para centrarmo-nos na busca da felicidade, poderíamos esquecê-la; isso seria querer que o mundo se curve às nossas nuances. Depender de algo externo para ser feliz não é, por certo, ser feliz de fato; o que deve mudar não são as condições de nossa vida, mas como as vemos, como as enfrentamos.

    Os que leem esse post provavelmente já devem ter reparado que corriqueiramente se vê muito mais demonstrações de alegria nas comunidades de baixa renda do que em luxuosos condomínios. Sou levado a crer, com base em observações, que a diferença está no modo que a pessoa encara as circunstâncias de sua vida.

    Por vezes posso parecer um pouco moralista, mas me agrada escrever nesse estilo de Plutarco ou Montaigne, sem grandes bases científicas, mas empíricas. Seguindo o raciocínio, trago um pensamento que lembro da novela "O Clone", na qual havia muita influência da sabedoria muçulmana com seus muitos ditados populares; em uma cena na qual se apresentou um grande problema, Ali (personagem de Stenio Garcia) recitou um desses brocardos:

    "As coisas boas começam pequenas e só vão aumentando, mas os problemas começam grandes e só vão diminuindo."

    Nesse sentido, o problema parece um banho gelado; você, que está numa situação de conforto, de modo algum quer tomar um banho gelado, mas quando toma, vê que o mundo não acabou por causa disso e vê que a situação só pode melhorar depois do desconforto. Tudo o que ocorrer dali em diante só lhe fará aquecer e sentir-se melhor, porque a situação extrema já passou.

    Acredito que esse modo de encarar as coisas torna a vida mais serena, mais sábia. Certa vez minha mãe trouxe para casa um DVD de um filme chamado "Conversando com Deus", baseado em um best-seller no qual o autor conta ter, após passar por muitas dificuldades, conversado com Deus. Deus falou muito com ele e o mesmo conta suas experiências no livro, no filme e nas palestras que profere pelo mundo.
    Fui assistir meio cético, mas acabei tirando de tudo o que passou na experiência de Neale Donald Walsch (o autor) uma valiosa lição, que volta e meia recordo e volta e meia me ajuda muito. Trata-se de uma síntese elegantemente colocada de muitos escritos, digna mesmo de algo sobrenatural:

    "As coisas da vida simplesmente acontecem, o que muda é como reagimos a elas."

    Como disse, não pretendo colocar aqui o caminho da felicidade, até porque não o encontrei ainda por completo, todavia agir com mais alegria e sabedoria diante das adversidades pode ser um passo importante nesse caminho.

    É, sim, possível não "sair dos eixos". Ao perceber isso começa-se a ver uma pessoa brava, irada ou alterada como alguém que não consegue se controlar ou não se esforça para tanto, visto que uma magra reflexão já nos leva a concluir ser melhor agir com calma; daí o popular "contar até dez" antes de explodir, uma vez que é tão descabida a ideia de estressar-se inutilmente, que essa conclusão geralmente aparece espontaneamente entre o um e o dez.

    Isso é tudo por ora!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Falar sobre ideias

    Há alguns meses, após pensar sobre aspectos diversos da vida, tomei a decisão de excluir meu facebook. Devo dizer que até agora não me arrependi e creio que não me arrependerei tão cedo. Na mesma oportunidade pensei não haver sentido em manter um blog pelas mesmas razões que me levavam a não mais querer observar e ser observado através do facebook.

    Deixei de deletar o blog por achar legal visitar, de vez em quando, o que pensava tempos atrás; mesmo algumas baboseiras plantadas aqui e ali mostram que o hoje existente se desenvolveu de algo mais primitivo. Desde então (ex tunc, em tradução literal), como um julgador que mantém a decisão embargada por seus próprios argumentos, o blog está parado e com o pressuposto de ter-me como único leitor atento.

    No entanto, como veio ele à tona em algumas conversas junto a colegas e familiares, decidi vez ou outra colocar aqui alguma ideia sem o intento (antes central) de divulgar o blog buscando o maior número possível de acessos. Escreverei para os poucos que, por acaso ou não, acessarem; ao fim será um diálogo comigo mesmo e com esses poucos. Conforme já citei em várias outras ocasiões, ensina Platão que filosofar é dialogar.

    Pois bem, seja por um meio ou outro, o diálogo não perde sua natureza; através de diálogos venho remodelando o que penso a cada dia, de sorte que mesmo a leitura regressiva em termos temporais dos posts desse blog parece um corte geológico do solo que revela seu passado. Tal passado é necessário para que o solo de hoje seja desta maneira; espero que seja um solo fértil.

    Aqueles que utilizam a internet com certa frequência devem ter observado que ultimamente existem "quadros" nos cantos de certas páginas nos quais por vezes aparecem as propagandas de sempre e por vezes citações variadas de provérbios ou frases famosas. Estas aparecem em inglês e uma das que mais me chamou atenção foi a seguinte:

    "Great people talk about ideas
    average people talk about things
    small people talk about other people."

    ou seja, grandes pessoas conversam sobre ideias, pessoas normais conversam sobre coisas e pessoas pequenas conversam sobre outras pessoas.

    Pensando sobre essa citação de autor desconhecido, me parece que resulta em uma instrução simples e certeira para a aquisição de virtudes e a priorização de boas amizades; consequentemente, portanto, para uma melhora generalizada de vida.

    Infelizmente, utilizando metáfora extraída de Harry Potter, muitos são os trouxas e poucos são os bruxos, ou seja, quase ninguém vai conseguir operar essa mágica após uma vida tendo objetivos exclusivamente materiais e utilizando momentos de fofoca como fonte de lazer. A mágica, no caso, seria tornar-se "grande pessoa".

    Nesse caso poderia tratar "grande pessoa" como "grande alma"; isso me lembra Mahatma Gandhi onde Mahatma significa "grande alma" e Gandhi é um sobrenome comum (como "silva" aqui no Brasil). Poder-se-ia dizer que é uma grande alma no povo. Uma grande alma é capaz de contribuir de modo quase impensável para a humanidade, de modo que os médios e pequenos sequer suspeitam.

    Olhando ao final da trajetória de uma grande pessoa é facílimo perceber qual é a escolha certa, que esta pessoa foi capaz de realizar tais escolhas nas encruzilhadas de sua vida; ocorre, porém, que enfrentamos encruzilhadas semelhantes diariamente e seduzidos pelo caminho mais fácil/curto/conveniente ficamos quase sempre do medíocre para baixo.

    Ora, se a escolha certa muitas vezes é óbvia, por que tal irracionalidade? Diz José Ingenieros, em sua obra "O Homem Medíocre" que "ao homem medíocre o cérebro é simples adorno". Também como quem olha a situação de cima, em tom sério e por isso cômico completa que o homem medíocre é fenômeno que aparece com frequência na vida, por isso é necessário estudá-lo.

    Quando defronta-se com algum rebento o qual adentrou certo estágio da grandeza aqui descrita, é prontamente perceptível que em sua presença é por vezes pejorativo ressaltar amenidades/futilidades. A simples presença do grande homem urge pela discussão de ideias, por discussões diferentes do comum e corrente, pelo diálogo que finda em filosofar.

    Como também já ressaltei em outra oportunidade, a própria sigla PhD (Philosophy Doctor) pressupõe a necessidade de que, após estudada uma ciência a fundo, estude-se filosofia. Ao final, filosofia é mesmo o que resulta do contato produtivo com grandes homens. O encontro de conhecimentos desenvolvidos do simples ao complexo produz novos conhecimentos.

    Imaginem um big bang, o surgimento de um universo incomensurável onde sequer espaço existia, eis o que ocorre no encontro de ideias provenientes de grandes homens, diz-se, por exemplo, que a primeira conversa entre Carl Jung e Sigmund Freud durou 13 (treze) horas. Diz-se também que ao homem é dado o poder de criar tudo o que tem capacidade de imaginar.

    Imaginamos muitas coisas, de discos voadores a máquinas do tempo; incontáveis avanços atuais seriam dados como impossíveis no século retrasado. É possível, dessa forma, alcançar mares nunca dantes navegados com certa facilidade tendo os grandes homens em maior número e em contato.

    Ocorre que o mundo não raro barra o progresso desses homens que poderiam, ao futuro, carregá-lo nas costas como um atlas (ver Atlas Shrugged de Ayn Rand, publicado no Brasil como A Revolta de Atlas)¹, insiste em empurrar os grandes homens a falar sobre coisas e sobre outras pessoas quando estes querem falar sobre ideias. Conheço pouquíssimos desses grandes e tenho como pretensiosa pretensão tornar-me um deles algum dia.

    Acredito que quem mira baixo se limita, principalmente quando o faz na juventude. Quando se é novo, está na hora de fixar um objetivo, sendo tal objetivo carecedor de muito trabalho/dedicação e oferecendo horizontes infinitos àqueles que o atingem, aí haverá possibilidade de surgir um grande homem. A vida "peneira" continuamente os que estão na busca de seus objetivos; sobreviver a essa seleção natural é vital.
    Como é exposto no filme Peixe Grande (Big Fish), dirigido por Tim Burton (excelente filme), "O maior peixe do rio só é grande porque nunca foi pego."

    Penso que a importância de que os objetivos finais figurem em posições nas quais haja horizonte infinito para criar pode ser dita também como objetivos em que haja a possibilidade de filosofar. Somente dessa filosofia somada ao conhecimento já obtido pelo homem pode surgir o novo; de que adianta saber executar o trabalho sem possuir as ferramentas necessárias? 

    Como essas coisas não vêm de uma hora para outra, é necessário pensar a longo prazo, coisa que já exclui grande parte da população; como a frase que minha mãe frequentemente cita como sendo de Paulo Freire: "não se pode abrir a flor à força."
    Mas isso já é pano para a manga de outro post.

    Por ora é isso (:


_________________________________
¹ A obra "A Revolta de Atlas" me pareceu sensacional por certos aspectos, me deu vontade de fazer minha própria sorte e triunfar na vida, contudo possui alguns aspectos de extremismo que em minha opinião devem ser relevados pelo leitor. Alguns exemplos são sua tendência altamente materialista, ateísta e desprovida de sentimentos desinteressados.

domingo, 20 de maio de 2012

Mantendo-se nos eixos

    Ultimamente, como filósofo amador, tenho chegado a algumas conclusões que considero importantes, contudo a mais importante delas é que de nada adianta chegar a muitas conclusões se estas não são aplicadas na prática, se não viram avanços palpáveis na vida e em como é conduzida.

    Iniciei, então, uma espécie de trajetória onde pretendo incorporar aos poucos algumas dessas conclusões para ver passo a passo como resultam em benefícios ou prejuízos; mal comecei e já tenho a nítida sensação de que valeu a pena. Porém ainda há muito chão pela frente.


    Inicialmente gostaria de trazer a ideia de "eixo psicológico"; quem aqui nunca ouviu a expressão "tirar fora dos eixos" ou algo semelhante? o eixo seria o ponto de equilíbrio, a base forte sobre a qual é possível se apoiar sem medo de que balance. Assim, para efeitos desse post, um eixo psicológico é formado pelo núcleo duro de concepções e atitudes das quais o indivíduo procura não abrir mão em circunstância alguma.

    Algumas pessoas são maleáveis ao extremo, altamente sugestionáveis de sorte que se apoiam muito em outras pessoas, modismos, o que os outros irão pensar, o que esperam dela, etc. Outras, por outro lado, têm regrados quase todos os aspectos de sua vida e antes irão morrer do que mudar suas opiniões.

    O objetivo então seria atingir um ponto de equilíbrio com o tal núcleo duro de concepções e uma certa abertura ao novo, à possibilidade de aprender sempre.

    Começando a filosofar um pouco (e talvez perdendo algum leitor mais impaciente) devo dizer que tenho observado muitas pessoas próximas se enquadrarem na categoria das maleáveis ao extremo, sinal de que sou também muito maleável, já que, seguindo um sem número de pensadores, é possível dizer que enxergamos nos outros um reflexo de nós mesmos.

    Vi também algumas poucas pessoas que parecem ter atingido o equilíbrio, sobre as quais me deterei agora.
    Essas pessoas simplesmente seguem os seus caminhos, pensam um pouco sobre os rumos a tomar e os seguem sem parar por conta de alguém que não gostou de sua decisão. Elas não se preocupam em agradar a todos e estão preparadas para ser malquistas por alguns aos quais não se dobraram quando supostamente deveriam.
    Não raro conseguem pensar a longo prazo e transcender as ilusões que propõem soluções fáceis aos problemas imediatos, para elas a maior derrota é sucumbir aos seus objetivos em troca de algum ganho simplesmente financeiro ou de algo igualmente superficial.

    Ao final, estes com um eixo psicológico equilibrado conseguem liberdade, autonomia, por serem imperturbáveis, incansáveis.

    Chegar a este ponto requer um feixe de virtudes do qual, posso dizer, ainda não disponho; todavia vejo que é possível.

    É uma boa pensar se você está sendo o tipo de pessoa maleável ou mesmo o turrão teimoso que não muda. De que adiantaria viver levado pelos outros ou fechado às coisas novas sem sequer tê-las experimentado?

Por hoje é só..até mais ;)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Tornar a verdade inacreditável

    Esses dias, em meio a minhas viagens, me deparei com uma frase que gerou grande impacto à primeira vista e ainda hoje me faz tomar algumas atitudes de superação. Trata-se de um dos chamados "aforismos de Napoleão", excertos do pensamento de Napoleão Bonaparte publicados no Brasil sob o nome de "Manual do Líder".

"o meio de ser acreditado é tornar a verdade inacreditável"

é a frase; por conta dela tenho sido impelido a trabalhar para que minha vida, em verdade, torne-se inacreditável; parece um tanto pretencioso, mas conforme expus alguns dias atrás, começar algo já é um grande passo.

    Expus também, que o fato de não terminar o que se começa retira quase toda a utilidade de ter começado; é talvez como se fosse criado um anexo à pessoa que somente a ajudará se for desenvolvido até certo ponto, caso contrário pode até atrapalhá-la na medida em que perde a capacidade de levar as coisas adiante.

    Assim, aquele que conclui seus empreendimentos consegue tornar a verdade inacreditável, consegue ser aquele cara que veio lá de baixo e triunfou, uma vez que a coisa mais fácil é ficar pelo caminho. 

    O mundo pune e premia em uma seleção natural; se você for comum (ou "normal", capitulando a ideia do post anterior), terá uma vida acreditável e, portanto, sempre terá de provar tudo o que faz, carecerá de firmeza, quem sabe obedeça em vez de ser obedecido; todavia isso são meras reflexões menos defensáveis do que a ideia central a qual quero expor.

    Voltando ao foco, devo dizer que a frase aparece como um jogo de palavras genial no qual o primeiro acreditar quer dizer confiar. Para que as pessoas confiem em alguém sem conhecê-lo a fundo é necessário que esse alguém dê provas do merecimento de tal confiança; esta prova, no caso, é a verdade inacreditável gerada.

    Antes da segunda guerra mundial, por exemplo, o partido nazista conseguiu uma recuperação incrível da economia alemã, então em severa crise. Visto que a economia, quando saudável, eleva consideravelmente o nível de vida da população e que à primeira vista os meios utilizados por Hitler só trouxeram benefícios, era como se ele tivesse operado um milagre.

    A verdade tornou-se inacreditável e Hitler foi acreditado pelo povo para fazer o que quisesse.

    Obviemente aqui não faço apologia ao que ele decidiu fazer com essa confiança, porém a questão foi que ele a obteve e somente conseguiu isso em decorrência de agir no plano concreto; a grande massa dificilmente segue fervorosamente ideias e somente ideias.

    Saindo do exemplo de Hitler e de qualquer outro que possa se encaixar no caso (o próprio Napoleão Bonaparte, que ascendeu após vitórias militares) e passando à realidade de nossas vidas, podemos dizer que é importantíssimo ter a confiança dos que nos rodeiam; mesmo se o objetivo final não for liderar e capitanear uma carreira meteórica.

    Desde uma entrevista de emprego até a apresentação de um trabalho ou papo de botequim, pode-se perceber um diferencial dos que põem em prática, que fazem, agem; a vida é feita de escolhas, é possível afirmar que muitos, até uma certa idade, têm uma vida passível de tornar a verdade inacreditável, depois, porém, se acomodam por ter chegado a um ponto confortável ou perdido qualquer perspectiva de melhora.

    Ora, fosse fácil chegar a tal ponto, muitos o fariam, conforme ouvi certa vez, que graça tem procurar se é fácil achar?

    Em minha curta experiência de vida, sugeriria que se buscasse um pouco do que Platão entendia como a educação ideal (exposta alguns posts atrás), em que o indivíduo conhecedor de línguas, música, matemática, esportes, oratória e talvez mais algumas habilidades seria o homem completo.

    Hoje em dia é realmente complicado ter tempo e dinheiro para dedicar-se tão somente ao aprendizado de novas habilidades e aprimoramento das antigas, no entanto aprender a tocar um instrumento musical e estudar uma nova língua pode ser um ótimo começo.

    Para finalizar, talvez seja uma fala do "capitão óbvio", contudo só se aprende a fazer algo fazendo; se quer se expressar melhor em público, por exemplo, deve romper a barreira que impede expressão frequente em público como um martelo rompe um vidro; ter a posse deste martelo que rompe as paredes erigidas por nós mesmos é a chave para tornar a verdade inacreditável e, ao fim, ser acreditado.
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