Stuff II

    Eu estava por esses dias pensando em tudo que eu já fiz na vida, que todas as situações pelas quais eu passei moldaram o que eu sou hoje..enfim, aquela viagem que alguns fazem quando estão coçando, sem nada para fazer.^^
    Pensamento vai, pensamento vem e comecei a me recordar dos idos da minhas 7ª-8ª séries nas quais fui apresentado ao famigerado Tibia; para os felizardos que não conheceram essa praga, trata-se de um jogo no qual a pessoa vicia cegamente, daqueles em que o indivíduo deixa até de dormir pra jogar. Quando o viciado é uma pessoa normal, ele fica alguns meses no jogo até enjoar e ter o remordimento na consciência suficiente para profetizar a máxima:"...Ah, se arrependimento matasse...". Então após alguns meses de abstinência vem a crise, e a "inteligência rara" volta a jogar a referida porcaria ou troca-a por uma mais forte, como se passasse da maconha para a cocaína.
    Esse é um ciclo vicioso no qual, posso dizer seguramente, que uma fatia de um terço ou mais da juventude de classe média-baixa e média-alta estão presos, uma lástima já que poucos veem algum absurdo nessa prática, os pais até acham bom por motivos insanos se analisados com cautela; então surgem extraordinárias citações como "...Ah, o guri quando tá no computador não incomoda...", "...ele podia ta fazendo coisa pior..."ou"...pelo menos ele tá onde eu posso ver..." dirigidas de pais que tem os filhos como fardo, para os mesmos, alienados, condicionados pelo seu meio, diria Dukheim; preferem um mundo fantasioso a esse, no qual estão fadados à infelicidade.

    Depois de caída a ficha na cabeça de alguns, após o tico e o teco se entenderem, começam a buscar uma solução para o problema. Pensam em mudar à força, mas percebem que violência só gera violência, pensam em gerar outros atrativos, mas impossível competir com a máquina, o vício; então chegam à genial conclusão:"temos que ensinar essa garotada a pensar, assim eles chegarão à algum lugar por si próprios!" aí sim!! Mas como fazer isso??!!
    Aí vem a ideia de puxar para a religião, mas essa, confesso está muito desacreditada com os últimos escândalos e guerras, então, como um cientista que testa várias hipóteses errôneas até chegar à combinação perfeita, têm um lampejo "vamos ensinar filosofia!que melhor maneira de despertar a opinião crítica na massa cinzenta robotizada da juventude?!"
    Então forma-se uma corrente pela filosofia, a provável saída não só para o problema aqui relatado como para outros ainda, a ideia-mor, resultado de inúmeras cabeças que pensaram muito para chegar a esta pérola de sabedoria. E quando a filosofia começa a ser ensinada começa o movimento opositor "...prá quê filosofia minha gente?? isso não serve pra nada!...""...esse negócio de filosifia é um atraso!em que eu vou usar isso no futuro?!...""...se não bastasse matemática, física, química e mais um monte de coisa, ainda vo te que saber filosofia?!sacanagem..."
    Nisso o remédio virou veneno, é claro que as raras exceções justificam já a empreitada, mas o brasileiro em geral ainda não alcança a importância do pensamento filosófico, e também não é interessante que o faça, pois se assim fosse, quem as grandes corporações e os políticos iriam manipular? Por essas e outras razões que muitos consideram já batidas, pouco se tem feito para melhorar a situação.
    De um ponto de vista amplo, voltando ao exemplo do jovem alienado pelos vícios modernos, este se incomoda quando é levado a pensar na existência, na morte, quando desperdiça sua vida em algo inútil, também recusa-se a buscar o conhecimento, pois pensa que o seu já lhe basta, que é obrigado a estudar até certo ponto, "estudar pra quê???" e quando chega a esse ponto, mais das vezes não faz o que gosta, mas o que lhe dará ganhos materiais, isso quando não fica no ócio; foi-se o tempo em que os filhos iam viver a própria vida após terminarem os estudos, sair da casa dos pais, formar família, esta que é uma instituição do passado aliás.
    Para encerrar voltando ao meu exemplo com o Tibia, joguei aquilo lá e voltei algumas vezes, mas percebi que estava recebendo minha vida num pacote de presente, perfeitinha, e o que estava fazendo com ela:jogar no lixo! O tempo passava de pressa assim como alguns dos que poderiam ter sido os melhores anos de minha vida, o bom foi passar por isso e perceber a burrada que eu estava fazendo, como não o fizeram alguns dos meus amigos.
    Como tudo o que é demais faz mal, incluindo o tamanho de um post como esse, fico por aqui, e espero ter acrescentado algo na vida de algum leitor, isso já vale a pena por si só.
    Até a próxima!

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Para ilustrar o post, escolhi duas citações brilhantes de Séneca:
    "A companhia da multidão é nociva: há sempre alguém que nos ensina a gostar de um vício, ou que, sem que percebamos, transmite-nos esse vício por completo ou em parte. Quanto mais numerosas forem as pessoas com as quais convivemos, maior é o perigo."


    "É parte da cura o desejo de ser curado."
Para se pensar..